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Acessibilidade no audiovisual com o “Cine Pra Tudim”

Texto: Thaís Melo

O cineclube “Cine Pra Tudim” teve a sua primeira sessão de exibição no dia nove de setembro e reuniu pessoas surdas e pessoas com deficiência visual para assistirem um filme de forma totalmente acessível em Juazeiro do Norte. O curta exibido foi “Crisálida” de 2016 que tem a direção de Sérgio Melo dos Santos.

A obra mostra a jornada de um menino surdo que só convivia com ouvintes e ao conhecer um intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) passa a ter uma nova perspectiva sobre a sua condição e o mundo ao seu redor. O cineclube que é uma iniciativa da produtora InCartaz Filmes e do programa FilmInBrasil é o primeiro projeto desse tipo realizado no Cariri Cearense.

Essa primeira sessão reuniu 27 espectadores sendo cinco pessoas surdas, cinco crianças codas (que são ouvintes, filhas de pais surdos), seis pessoas cegas e uma com baixa visão. Além, é claro, de pessoas sem deficiência, mas que tem interesse pelo tema. A sessão contou ainda com a presença de uma das atrizes do filme exibido. A atriz Miriam Royer que é surda e além de atuar também dá aulas na Universidade Federal do Cariri. Ela respondeu a diversas dúvidas dos presentes ao final da exibição.

O cineclube tem como proposta levar o cinema de forma gratuita e acessível para todos. As sessões que acontecem mensalmente, vão ser realizadas sempre às 18 horas no segundo sábado de cada mês na Casa InCartaz Cariri. A proposta do projeto é sempre exibir um curta-metragem com audiodescrição e tradução para Libras.

E mais do que apenas assistir ao filme, os idealizadores do cineclube querem propor uma reflexão sobre a importância da acessibilidade e sobre as temáticas abordadas em cada obra exibida, por isso após cada exibição sempre acontece um debate. Nele os presentes podem fazer perguntas, dar opiniões sobre as obras ou apenas contar como as vivências pessoais de cada um se relacionam com o curta exibido.

O projeto idealizado pelo cineasta Marcelo Paes de Carvalho conta com a coordenação do intérprete de Libras Lirieudo Santos e também tem a jornalista Dalila da Silva na organização juntamente com Isabel Holanda, assistente de produção e comunicação da InCartaz. Para saber mais sobre a primeira sessão, entrevistamos Lirieudo Santos, tradutor e intérprete de Libras, que foi o mediador do debate e também um dos idealizadores do projeto. Na InCartaz ele já atua como coordenador de acessibilidade e democratização.

De acordo com ele a percepção que ficou após essa primeira exibição já foi muito positiva. “Eu vi que foi um momento muito vivo. Por exemplo, pessoas surdas tinham dúvidas sobre como funcionava a audiodescrição e no evento elas puderam aprender como funciona. Já as pessoas com deficiência visual puderam aprender sobre legendas e sobre a janela de Libras. Então, foi um momento em que essas medidas de acessibilidade puderam ser mais conhecidas por essas pessoas”, relatou o mediador.

Ainda segundo ele tiveram pessoas que se identificaram com a história do filme e deram relatos de suas vivências. “Foi um filme que tocou e conversou com as experiências das pessoas surdas. E para as pessoas com deficiência visual nós percebemos que eles tiveram muitas sugestões para melhorar a audiodescrição”, contou Lirieudo.

Já o debate foi empolgante, ainda mais com a presença da atriz Miriam Royer que pode responder perguntas sobre os bastidores das gravações do curta, suas experiências pessoais como uma pessoa surda, dentre outras coisas. De acordo com o mediador foi um momento de muita troca, onde todos puderam sanar as suas dúvidas.

Lirieudo Santos falou ainda sobre a importância de um projeto como esse. “Esse evento é fundamental, pois não existe no Cariri nenhuma sessão de cineclube que exiba filmes com tradução para Libras e nem com audiodescrição. Encontrar os dois juntos é mais raro ainda, então é um momento único onde as pessoas com deficiência podem interagir com o filme e as pessoas sem deficiência podem ter contato com essas medidas. Afinal, muitas vezes as pessoas não estão acostumadas com produções que tenham janela de Libras e audiodescrição”, relatou.

Ele explicou também sobre como esse tipo de ação acaba sendo marcante na comunidade. “O cineclube é um momento onde as pessoas sem deficiência podem se familiarizar com essas medidas de acessibilidade e as pessoas com deficiência podem se aproximar mais do cinema. Esse tipo de ação raramente acontece então esse cineclube é muito especial e acaba marcando a história dessas comunidades aqui no Cariri Cearense”, contou o intérprete. Com apenas uma sessão já deu para notar como esse projeto veio para enriquecer a agenda cultural do Cariri.

Para mais informações sobre o projeto basta acessar a matéria anterior  ou entrar em contato pelo telefone (21) 9 97939-3106. E se você perdeu a primeira sessão, não deixe de conferir as próximas!

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