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A comovente história de Estamira

Texto: Thaís Melo

No documentário nacional “Estamira” dirigido por Marcos Prado e lançado em 2005 conhecemos Estamira Gomes de Souza, uma senhora que na época das gravações tinha 63 anos e sofria com distúrbios mentais que não eram tratados. Além disso, Estamira vivia em condições precárias morando e trabalhando no aterro sanitário de Jardim Gramacho no Rio de Janeiro.

O documentário recebeu atenção internacional e foi produzido por José Padilha, nele além das alarmantes condições em que a protagonista vive outro fator que chama a atenção são as falas de Estamira, que ao mesmo tempo em que parece fora da realidade em alguns momentos em outros parece muito lúcida e cheia de sabedoria.

Após viver por 22 anos tirando sua sobrevivência dos resíduos descartados pelos outros, Estamira passou a enxergar o mundo de uma forma única. Na obra ela reflete sobre Deus, sobre trabalho, sobre suas condições de vida dentre outros temas. Ao misturar lucidez e loucura em suas falas ela reflete sobre si mesma e sobre a sociedade no geral e leva o espectador a refletir junto com ela.

Com sensibilidade e de forma crua os idealizadores do documentário retratam Estamira em seus momentos bons e ruins, sendo dura e sendo gentil, sendo mulher e sendo mãe, ou apenas mais uma trabalhadora em um trabalho ingrato e em condições insalubres. Vivendo à margem da sociedade e sendo invisibilidade pelas mesmas pessoas que ela acreditava terem muito a aprender com ela.

O documentário foi um sucesso e conquistou diversos prêmios como o prêmio de melhor documentário no Festival do Rio, prêmio especial do júri no Festival Internacional de Cinema de Miami e uma menção honrosa no Festival Internacional de Cinema de Londres dentre outros. Mas o impacto de sua história e de suas falas não foi o bastante para mudar a triste realidade de Estamira.

Ela faleceu em 2011, aos 70 anos, a idosa que já sofria de diabetes e teve septicemia veio a óbito de maneira trágica. Ela deu entrada no hospital devido a uma infecção no braço e ficou dois dias aguardando atendimento no corredor do Hospital Municipal Miguel Couto. Em decorrência da falta de atendimento adequado o quadro evoluiu para uma infecção generalizada e ela não resistiu.

Tendo passado a maior parte da vida invisibilizada por governantes e pela sociedade como um todo, Estamira morreu vítima desta negligência. Pois mesmo após buscar atendimento em um momento de necessidade seguiu sendo invisível e tendo suas necessidades básicas colocadas em segundo plano até que seu corpo não pode mais esperar.

Mas embora ela já tenha partido, sua história permanece e para quem tiver interesse em conhecê-la vale a pena conferir o documentário e durante duas horas tentar ver o mundo pelos olhos de Estamira e tentar descobrir onde a sociedade falhou com ela e ainda falha com tantos outros que seguem invisíveis, mesmo que assim como Estamira, tenham muito para dizer e para ensinar. 

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