por Ariel Dandara e Letícia Holanda
Pela primeira vez em vinte anos, “Ainda estou aqui” ascende das salas de cinema para o Globo de ouro, sendo indicado na categoria de “Melhor Filme Estrangeiro”. A atriz e protagonista do longa, Fernanda Torres também recebeu a indicação de “Melhor Atriz”, o que é nada mais justo pela sua atuação primorosa. Será esta uma caminhada rumo ao Oscar?
Uma curiosidade é que a produção estreou no Festival de Veneza, onde foi aplaudido por dez minutos seguidos, para depois ser lançado no Brasil. O filme está colecionando não só prêmios (Melhor Roteiro no Festival de Veneza, Audience Award – Special Presentation pelo Vancouver Internacional Film Festival e Melhor Filme de Ficção Brasileiro na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo) como também elogios da crítica nacional e estrangeira. “Ainda estou aqui” já alcançou milhões de pessoas e em bilheteria.
Walter Salles entrega mais uma produção memorável, pensada nos mínimos detalhes e engatilhada para gerar afetos de modo espectral. “Ainda estou aqui” narra a história da família Paiva, com enfoque na poderosa, quase hierática, resiliência de Eunice Paiva, destinada a se tornar uma ativista política após o desaparecimento de seu marido. Entre memórias doces de uma família feliz e os horrores da ditadura, o filme configura-se como relato histórico mas também um voto de protesto pelas famílias que ficaram marcadas por cicatrizes de um estado autoritário, que reverberam mesmo com a passagem do tempo.
Entre realidade e ficção
Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, o filme narra uma história real, na adaptação para o cinema algumas alterações foram feitas. Uma dessas mudanças foi feita na cena do carro, o Opel vermelho que pertencia a Rubens Paiva. No filme, Eunice vai até o DOI-Codi com remédios para diabetes e busca o carro do marido, o que realmente aconteceu foi que Eunice viu o carro e contou para a família, mas quem foi buscar foi a filha mais velha. Outra alteração feita foi na retratação da mulher de Rubens no período em que ela esteve no DOI-Codi, Eunice ficou 12 dias sendo interrogada. Na vida real, ela encarou o livro de fotos, de acordo com o livro do filho: “Minha mãe identificou a foto da professora das minhas irmãs, Cecília, no álbum de presos. Mas não disse nada”. Já na ficção, Eunice identifica a professora, afirma conhecê-la, mas não entende o que ela estava fazendo ali. Na vida real Cecília ainda enviou uma carta para Eunice, contando que ficou presa com Rubens no DOI-Codi e que escutou ele gritar o próprio nome e pedir por água, a carta também foi retratada no filme.