O cinema “fora do eixo”: sobre a participação do Nordeste no mercado audiovisual
Texto: Redação
O mundo tem sido claro com suas exigências em relação à diversidade e pluralidade no setor audiovisual. Para acompanhar essa demanda, vem crescendo nos últimos anos o número de políticas públicas e privadas visando promover a participação de grupos minoritários no audiovisual brasileiro, que ainda é formado majoritariamente pelos grupos de sempre – homens brancos, cis e com acesso à informação, conforme aponta o Grupo de Estudos Multidisciplinar de Ações Afirmativas.
Para além das barreiras de gênero, etnia e orientação sexual, também se faz necessário combater as barreiras geográficas construídas no setor, se permitindo englobar mercados além do eixo Rio-São Paulo, que ainda representa a maior parte da indústria.
A região Sudeste representa sozinha cerca de 60% da participação relativa dos empregos do setor audiovisual, segundo o Panorama do Setor Audiovisual Brasileiro, realizado pela Ancine em 2019. Esses dados podem ser preocupantes, mas indicam uma queda de 4% em relação ao ano de 2010 e um crescimento significativo do mercado audiovisual nas regiões Nordeste e Centro-Oeste.
Apesar do momento de interrupção desse crescimento com a pandemia de COVID-19, o surgimento de novas políticas emergenciais veio para contribuir com uma nova fase do cinema brasileiro, com um número ainda maior de produções “fora do eixo”, graças ao recebimento de recursos nunca vistos antes por essa regiões.
O Nordeste, por exemplo, teve R$ 1.1 bilhões destinados à distribuição em seus estados e municípios, sendo o segundo maior aporte do país, atrás apenas da região Sudeste (é claro), com R$ 1.4 bilhões. É fato que os estados de São Paulo e Rio de Janeiro representam juntos cerca de um terço desse valor, mas é inegável o avanço alcançado pela democratização geográfica do audiovisual no Brasil.
Isso representa não só um crescimento direto do mercado, mas também uma oportunidade para a inserção de novos profissionais nordestinos no setor audiovisual. E sabemos que o Nordeste é um exemplo quando se trata de gerar cineastas marcantes para o cinema brasileiro.
Explorando o cinema nordestino
O cinema Nordestino se apresenta ao mundo como uma expressão autêntica e poderosa de pluralidade cultural e como um agente importantíssimo para a formação da indústria audiovisual brasileira.
Para contar mais sobre, pode-se tomar o exemplo de alguns estados nordestinos e seus representantes no cinema:
Cinema cearense
O cinema cearense é, acima de tudo, livre. Ele aborda as mais diversas temáticas, confrontando convenções e testando diversos estilos. Temas políticos, identitários, de sexualidade e questões de classe. Sempre se permitindo rir ou discutir seriamente (às vezes os dois) sobre a identidade cearense.
Além disso, a Primavera Cearense, que surgiu de políticas culturais descentralizadoras, trouxe uma maior visibilidade para as artes nordestinas, contribuindo para o crescimento do cinema na região.
Exemplos de filmes cearenses:
- A Vida Invisível – Karim Ainouz
- O Céu de Suely – Karim Ainouz
- Praia do Futuro – Karim Ainouz
- Madame Satã – Karim Ainouz
- Cine Holliúdy – Halder Gomes
Cinema pernambucano
Com obras premiadas como “Bacurau”, o cinema pernambucano se destaca pela diversidade e influência no Brasil, explorando perspectivas diversas sobre os conflitos de uma sociedade marcada pela violência e pelo patriarcado.
Exemplos de filmes pernambucanos:
- O som ao Redor – Kleber Mendonça Filho
- Um lugar ao Sol – Gabriel Mascaro
- Aquarius – Kleber Mendonça Filho
- Bacurau – Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
- Estradeiros – Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro
Cinema baiano
O cinema baiano é historicamente rico. E essa história começa na década de 50, com o lançamento do primeiro longa-metragem gravado no estado, “Redenção”, de Roberto Pires, que deu início ao Ciclo Baiano de Cinema e impulsionou o movimento do Cinema Novo, com Glauber Rocha como um dos principais representantes.
Hoje, a Bahia é representada por cineastas como Ramon Coutinho, Amaranta César, Glenda Nicácio e Ary Rosa, entre outros. Suas obras se preocupam com temas de raça, negritude e sexualidade, marcando um importante papel do cinema baiano para a inclusão no cinema brasileiro.
Exemplos de filmes baianos:
- O Pagador de Promessas – Anselmo Duarte
- Barravento – Glauber Rocha
- Dona Flor e seus dois Maridos – Bruno Barreto
- Cidade Baixa – Sérgio Machado
- Ó Pai, ó – Monique Gardenberg