Texto: Letícia Holanda / Foto: Divulgação/Paris Filmes
A vida de Ney Matogrosso esmiuçada na tela de cinema, revela a coragem e subversidade do artista, a audácia de não ter medo de ser quem é. “Homem com H” de Esmir Filho chegou aos cinemas conquistando elogios da crítica e do público, a cinebiografia expõe a vida do artista desde a infância mostrando a conturbada relação com o pai e as relações românticas da vida adulta. O cantor é interpretado por Jesuíta Barbosa, o elenco ainda conta com Hermila Guedes, Rômulo Braga e Lara Tremouroux.
O enredo traz com sutileza e cuidado, as relações românticas do cantor, trazendo temas como homossexualidade e não-monogamia de uma perspectiva que foge de esteriótipos, mas que reafirma a identidade. Entre os amores do artista, o filme mostra o relacionamento entre Ney e Cazuza – um aspecto que ficou de fora da cinebiografia do roqueiro: “Cazuza – O Tempo Não Pára” (2004) de Sandra Werneck e Walter Carvalho.
Ney Matogrosso, em entrevista para a Veja, detalhou sobre as dificuldades de se manter na relação com Cazuza: “Fui completamente apaixonado, mas era difícil conviver com os dois Cazuzas que havia nele. No lado público, se mostrava agressivo, louco, bêbado e cheirava muito pó. Já na intimidade, era o oposto. Foi uma das pessoas mais encantadoras que conheci. A relação durou três intensos meses”. De acordo com o diretor do filme, ele teve a possibilidade de retratar Cazuza a partir da perspectiva de Ney.

Foto: Divulgação/Paris Filmes
Sob plano de fundo, o longa-metragem percorre os anos de ditadura, com a censura à espreita da classe artística até chegar aos anos da epidemia de AIDS nos anos 80 e 90. O período foi doloroso para o personagem principal que viu muitos de seus amigos e amores serem ceifados durante a epidemia. De acordo com o cantor, assistir às gravações da cena em que Jesuíta o interpreta recebendo o resultado do teste de AIDS, junto de seu companheiro Marco, que já estava infectado com o vírus, foi um dos momentos mais marcantes e dolorosos de assistir. “Passou na cabeça um flashback de toda aquela época e não aguentei”, contou o artista à Veja.
O roteiro contou com a colaboração direta de Ney, o artista afirmou que mesmo com a liberdade artística: “tudo o que está ali é verdade”. A narrativa inspirou-se no livro de memórias do cantor “Vira-Lata de Raça” (Tordesilhas, 2018) e foi adaptado a partir do livro “Ney Matogrosso: A Biografia” (Companhia das Letras, 2021), de Julio Maria. Intenso e vívido, o filme mostra sexo sem pudor e com veracidade, a classificação indicativa é de 16 anos. A cinebiografia está disponível em diversos cinemas do Brasil.