As dificuldades enfrentadas pelas mulheres no audiovisual
Texto: Thaís Melo
Cléo de Verberena foi a primeira mulher a dirigir um filme longa-metragem no país. A obra em questão foi o filme O mistério do dominó preto (1931). Além de dirigir ela também produziu e protagonizou a produção. Desde estão já se passaram mais de noventa anos e mesmo assim as mulheres ainda tem mais dificuldades do que os homens para se consolidarem no mercado de audiovisual brasileiro.
Se formos fazer um recorte racial a situação é ainda pior. A primeira mulher negra a dirigir um filme no Brasil foi Adélia Sampaio que dirigiu o filme Amor Maldito (1984). Só pelo intervalo de mais de cinquenta anos entre as produções das duas diretoras já é possível ter uma dimensão de como quando além do machismo entra em ação também a discriminação racial as dificuldades são ainda maiores.
Infelizmente essa tendência não se mostra presente apenas no Brasil. Em 2022 dos 250 filmes de Hollywood com maior bilheteria apenas 22% dos diretores, cinegrafistas, roteiristas, produtores e editores eram mulheres. Na maior premiação do cinema, o Oscar, elas só venceram a estatueta de melhor direção três vezes em mais de noventa anos de premiação. As diretoras premiadas foram Kathryn Bigelow por Guerra ao Terror em 2010, Chloé Zhao por Nomadland em 2021 e Jane Campion por Ataque dos cães em 2022.
Esse percentual ainda baixo de mulheres atuando no cinema e mais baixo ainda de mulheres tendo reconhecimento na indústria não se deve de forma alguma a falta de interesse da parte delas, e sim, a falta de espaço que a indústria audiovisual oferece para elas. No Brasil as mulheres ainda precisam lidar com a disparidade salarial já que recebem em média 13% menos do que os homens.
A pluralidade de visões dentro do mercado audiovisual nacional só tende a enriquecer ainda mais esse mercado. É de suma importância que mulheres tenham mais espaço e reconhecimento na indústria, sejam elas mulheres negras, transexuais, periféricas, indígenas etc.
Visando mudar esse cenário de discriminação, muitos editais de apoio financeiro ao audiovisual brasileiro já visam a destinação de verba para produções feitas por mulheres.
Mesmo assim as dificuldades por elas enfrentadas nesse mercado ainda estão longe de serem sanadas, por isso é importante apoiar produções feitas por mulheres sejam elas brasileiras ou não. Talento e boas ideias é o que não faltam nos filmes feitos por elas. Algumas diretoras brasileiras que tem lançado filmes que foram sucesso de crítica são Anna Muylaert, Laís Bodanzky, Viviane Ferreira, Petra Costa e Sabrina Fidalgo.
Analisando o cinema mundial temos ainda mais nomes de diretoras que estão se destacando no mercado, como Greta Gerwig, Charlotte Wells e Misha Green além das vencedoras do Oscar já citadas aqui e muitas outras.
As mulheres com certeza vão continuar lutando para conquistarem o seu espaço na indústria cinematográfica, mas cabe ao público apoiar projetos feitos por mulheres para ajudar a alavancar a carreira de tantas mulheres cheias de talento e que só precisam de mais apoio financeiro e espaço para colocarem em prática suas ideias.